Carta à Staples

Ex. mos Senhores,

Temos vindo a ser alertados quer por vários associados quer por terapeutas da fala e outras pessoas anónimas para um anúncio publicitário da vossa empresa no ar na rádio TSF em que se faz uso da gaguez para promover um produto.

A gaguez é uma condição de saúde que afecta profundamente a qualidade de vida daqueles que dela sofrem , havendo nela uma dimensão de sofrimento pessoal e estigmatização colectiva que não deve ser ignorada. Em Portugal estimamos que existam 100 mil pessoas que gaguejam. É nossa missão, enquanto organização de representação das Pessoas que Gaguejam, promover uma cada vez maior consciencialização da nossa sociedade e respectivas instituições para os problemas da gaguez e de quem sofre com esta condição. Tal missão é levada a cabo quotidianamente com o intuito de desconstruir mitos e preconceitos que fazem com que as pessoas que gaguejam continuem a ser olhadas com condescendência, chacota e paternalismo, de evitar que continuem a sofrer porque a visibilidade da gaguez as torna invisíveis como pessoas, com o intuito de prevenir que crianças e jovens que gaguejam sejam vítimas de bullying pelo simples facto de gaguejarem, ou que alterem o seu projeto de vida como consequência do estigma.

Neste sentido consideramos que a vossa publicidade, ainda que inconscientemente e seguramente sem ser essa a vossa intenção, reproduz um conjunto de estereótipos da gaguez e das pessoas que gaguejam que imperam na nossa sociedade e que normaliza a noção da gaguez como algo risível e da qual é legitimo usar para o risível. Ao considerarem normal fazer uso da gaguez para promover o riso, tornam normal e legitimam perante milhares de radio espectadores o rir das pessoas que gaguejam, tornam normal e legitimam o uso da gaguez enquanto gatilho para uma situação de bullying e enquanto forma de humilhação de crianças e jovens que gaguejam. Tornam igualmente normal e legitimo o riso ou respostas de chacota como respostas aceitáveis a quem gagueja, o que faz com que pessoas que gaguejam que padeçam do estigma, evitem falar, se silenciem para não serem motivo de riso, se anulem no quotidiano por medo da chacota, e que, em última instância, mudem o seu projeto de vida devido a esse mesmo estigma.

Como tal, e devido aos factos aqui apresentados, exigimos que retirem do ar o anúncio publicitário em causa. Estamos seguros que compreenderão a nossa posição e agirão em conformidade.

Com os melhores cumprimentos

A Direção da Associação Portuguesa de Gagos

 

Uma Associação feita de Pessoas

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Eu falo assim porque sou gaga

Eu falo assim porque sou gaga

Por Dora Mota

Eu sou gaga. Muita gente que me conhece tenta suavizar esta afirmação, dizendo "não, tu não ÉS gaga, tu só gaguejas um bocadinho, quase nem se nota" ou então "oh, isso nem é gaguejar". Porque a gaguez é uma coisa encarada como um defeito tão grande que quando uma pessoa diz "eu sou gaga" é como se estivesse a dizer "eu sou feia" ou "eu não valho nada" e por isso os outros sentem que têm que nos elevar a auto-estima.

Por isso, sabendo que alguns de vós podereis estar com essa tentação, eu insisto com uma versão mais apurada.

Eu sou gaga e tenho uma grande auto-estima, uma grande auto-confiança e não tenho complexos por ser gaga. É simplesmente aquilo que eu sou. Sou uma mulher muito interessante e que fala pelos cotovelos e que gagueja quando fala pelos cotovelos e que nunca deixa nada por dizer.

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Carta de Indignação e Repúdio

Carta de Indignação e Repúdio


A Associação Portuguesa de Gagos vem por este meio demonstrar a sua total indignação e repúdio pelos eventos ocorridos no programa da TVI “A Casa dos Segredos & Secret Story” no passado dia 29 de Setembro de 2013. Nesse programa foi pedido a um dos concorrentes para convencer os restantes de que era gago, sendo-lhe exigido fingir e imitar “um gago”. Não apenas o pedido em si revela uma total falta de sensibilidade perante uma questão delicada para os mais de 100 mil portugueses com gaguez, como a interpretação estereotipada de gago que apresenta, e as reacções jocosas tanto da audiência, dos restantes concorrentes como da própria apresentadora revelam uma total falta de respeito por um problema que de jocoso e risível nada tem. Mais, são a expressão mais perniciosa dos estereótipos, preconceitos e falta de informação que perpassa toda a sociedade portuguesa relativamente à gaguez e às pessoas que gaguejam e que urge, no âmbito da luta pela igualdade e contra a descriminação, combater. Esta luta ganha nestes dias novo fulgor ao se aproximar o Dia Internacional de Consciencialização para a Gaguez, no próximo dia 22 de Outubro.

A gaguez é um problema de comunicação que afecta profundamente a qualidade de vida daqueles que sofrem desta condição, havendo nela uma dimensão de sofrimento pessoal e estigmatização colectiva que não deve ser ignorada. A gaguez não tem piada, tem tratamentos que poderão ajudar a mitigar os seus sintomas. A uma cadeia de televisão com a responsabilidade social como a TVI, com o poder que possui de formar e transformar as opiniões, é exigido que mantenha uma postura digna e de respeito por todos na nossa sociedade, ainda mais para com aqueles que sofrem com estereótipos pejorativos veiculados socialmente e que atentam contra a sua dignidade e qualidade de vida.

Desta forma exigimos à TVI uma retratação pública e um pedido de desculpas formal a todas as pessoas que gaguejam em Portugal. Mais do que gagos, somos pessoas, e se não nos considerarem dignos de respeito, tudo faremos para sermos respeitados. Não vale tudo em nome do Show. Mas sentimo-nos legitimados a tudo fazer para prevenir que as nossas crianças e jovens continuem a ser vítimas de bullying pelo simples facto de gaguejarem, para prevenir que alterem o seu projeto de vida como consequência do estigma, para desconstruir mitos e preconceitos que fazem com que as pessoas que gaguejam continuem a ser olhadas com condescendência, chacota e paternalismo, para evitar que continuem a sofrer porque a visibilidade da gaguez as torna invisíveis como pessoas.

É-nos exigida, a todos, a capacidade de transformarmos as nossas sociedades no sentido de serem mais tolerantes, inclusivas, justas e com um elevado sentido ético. Esta é uma missão cuja responsabilidade é partilhada por todos e à qual a TVI não se pode furtar.


Com os melhores cumprimentos

A Direção da Associação Portuguesa de Gagos

Sobre a APG

A Associação Portuguesa de Gagos foi fundada em Agosto de 2005.

É uma associação de âmbito nacional com sede na freguesia de Alqueidão, concelho da Figueira da Foz.

É desde 2011 membro da European League of Stuttering Associations.

Contactos

Associação Portuguesa de Gagos

adress Rua Principal, 78, Negrote, Alqueidão 3090-834 Figueira da Foz Portugal

phone 910 155 871

email gaguez@sapo.pt

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Dia Internacional de Consciencialização para a Gaguez

laco    22 de Outubro